fevereiro 20, 2011

A raiva ajudou a sobreviver por um tempo, mas acabou por a consumir. Como se precisasse dela para sobreviver, numa sobrevivência acinética e degenerada, numa sobrevivência auto destructiva, uma sobrevivência que inevitavelmente conduz ao abismo emocional, talvez, e consequentemente, outros abismos dos quais se abstrai numa conduta sã e coerente. Coerência? Deixou de perceber o sentido das palavras simples que dão sentido ao sentido de todas as coisas. As palavras não fazem sentido, as letras são racismo, as frases são ódio, a prosa é humilhação e a poesia deixou de ser amor. Cresce o desejo, esse que muda todas as sensações; cresce então o desejo de perder o cérebro, perdido de ideias perdidas em si próprias. Critica porque sente, não porque pensa. Se pensasse com o coração, parava. Perdida de pensar, sem sentir, perdendo-se no sentir adjacente ao pensar, ou o pensar adjacente ao sentir, é relevante discernir, mas impossivel conseguir. A impossibilidade das coisas é certa numa consciência, conseguida sem se conseguir a impossibilidade de conseguir, ciclicamente - sem fim. É lá, no fim, que ela sente o fogo no peito, o mar no rosto. Tudo desmorona, não restando ruínas, sendo sobras banais do seu próprio paradoxo de ser existindo. E é aí, apenas aí, que ela acorda, não pensando sequer na possibilidade de de um sonho não passar, nessa vulgaridade que o é dizer apenas no pensamento, pensando sim na remotamente certa ilusão de ter que se explicar, hipoteticamente admitindo que tudo fruto é de uma árvore que não colheu.
Mortas de sentir, vivas a morrer, mortas por viver.

1 comentário:

U disse...

A ti, as imagens. A mim, as tuas palavras.